sábado, 16 de fevereiro de 2008

E se eles descobrem?

A cidadania é uma coisa chata. Esta coisa de ter que explicar às pessoas – ainda por cima se os que explicam não sabem – dá sempre um trabalhão. Já viram o trabalho que teriam que ter, os ministros e os secretários de estado, para conseguir explicar ao povo este, indecifrável, Tratado Reformador?


E se as pessoas se põem a fazer muitas perguntas? Mais chatice ainda. Muitas perguntas… não, não… não pode ser! A malta é pacífica, gosta é de discutir a bola e as telenovelas, para quê acordá-los e arranjar problemas?


O melhor é encenar, fazer uns “números” para as TVs, uns aparatos e depois uns pequenos casos, perdão uns grandes casos, umas curiosidades, que são muito importantes para não se discutir nada. Embrulhamos isto numa “cena” do grande protagonismo internacional do país, damos uma “cena” de grandes estadistas, uma coisa importante à “brava”… há até aí uns tipos que gostam disso e nos metem com umas setinhas para cima. Uma “cena” cor-de-rosa adaptada à política, o povo gosta das “cenas” cor-de-rosa.


Tem por aí uns chatos que querem discutir o Banco Central Europeu. Não se pode ir nisso – nem sequer falar nisso. O Trichet também podia ser mais diplomático e saber enrolar mais, vender melhor o peixe. Mas o tipo é assim… temos que reconhecer que é determinado – ele é que manda e pronto!


Democracia? Quê? O Parlamento Europeu não risca nada? Oh pá, não tragas a confusão para aqui! Milhões de pessoas afogadas em dívidas e juros bancários? Isso não conta para nada, o que conta é a estabilidade dos negócios, dos mercados. Que culpa temos lá nós se as pessoas não se sabem governar? Trabalhem mais, trabalhem e poupem!


Estes podem ser alguns dos diálogos porreiros, pá, de quem circula pelos corredores da decisão. Mas também há gente que circula nos corredores de outras vidas – essas vidas reais, concretas – essas vidas dessa gente que nem se dá conta de quem e como mandam na sua vida concreta. Essa gente tem vida, tem que pensar, tem que ter mais voz, seja ela qual for – a sua voz.


Ter que se conversar, ter que se explicar… chato, é muito chato! E se fazem muitas perguntas? E se eles ficam a gostar? E se eles descobrem?

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